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sexta-feira, 30 de abril de 2010

Doce dor.

Quando começar o frio, dentro de nós, tudo em volta parece tão quieto, tudo em volta não parece perto, toda volta parece o mais certo. Certo é estar perto sem estar. Perto de você, sou tão perto de você, sou tão perto de você!
Quando o tempo não passar, dentro de nós, cada hora é como uma semana , cada novo alô é mais bacana, cada carta que eu nunca recebo é sempre um motivo pra lembrar, sou tão perto de você...
Vida amarga, como é doce a dor da palavra dita de tão longe, dita de tão longe, dita de tão longe... Quando alguém se machuca, dentro de nós, toda culpa parece resposta, nossa busca não parece nossa, nosso dia já não tem mais festa, não tem pressa nem onde chegar. Sou tão perto de você...
Quando a paz se anunciar, dentro de nós, é porque aquilo que nos cega, mostra um outro lado pra moeda que não paga as coisas do meu peito, o preço é me fazer acreditar. Sou tão perto de você...
Vida amarga, como é doce a dor da palavra dita de tão longe, dita de tão longe, dita de tão longe... Quando a música acabar, dentro de nós...
O Teatro Mágico - Perto de você.
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É muito forte essa música. E eu ainda tô pensando em algo bom (não que TM não seja bom) pra postar aqui. Beijos!

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sábado, 17 de abril de 2010

"Além do que se vê"

É sempre bom, finalmente, achar uma pessoa, que pareça com você e entenda aquele sarcasmo e aquela velha ironia costumeira que você deixou de fazer porque sempre ficava no vácuo ou como a idiota da história por causa da falta de capacidade das outras de entender e perceber tão sofisticado ato de ironizar (?).
É sempre bom achar, finalmente, uma pessoa com quem você possa falar qualquer besteira, sabendo que ela não vai acreditar, diferente daquelas que, com espanto, diziam: "Meu Deus.. Você falando isso?". Diferente destas "- Você assistiu a minha apresentação? - Não, tava dormindo." Lógico que não estava! Me ajudou muito na hora da prova, e você sabe disso sem precisar que eu me corrija, dizendo que é brincadeira.
É bom, finalmente, achar alguém que goste das mesmas músicas que você, que tenha um bom gosto tão bom quanto o seu (modesta, eu), que não é fanático por Cine, Restart ou forró, só porque é adolescente. Uma pessoa que quer se mostrar carinhosa e presente sempre.
Não tô falando de um best friend forever, é uma pessoa simples, que me fez perceber o quanto as aparências enganam, que é possível conseguir uma nota altíssima em Matemática com aquele professor cascudo, o quanto eu sou tonta e que eu tenho a maior cara de chata.
Pois é. E eu encontrei.

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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Espaço vital

Nas circuntâncias o conflito (e que outro tema usar?) é inevitável. Primeiro, porque estão sentados lado a lado; segundo, porque se trata de poltronas de avião, cujos braços, na classe turista, são necesssariamente estreitos; e terceiro, mas não menos importante, porque ela é gorda. Deus, muito gorda. Transbordaria de qualquer assento, especialmente daquele. Além disso, quer ler; não é um pequeno livro de bolso, ou uma revista, ou mesmo um tabloide; não, é um jornal grande que ela escolhe, um matutino. Edição dominical, prometendo longa, longa leitura. Todo o tempo do voo, pelo menos.
- Seu cinto de segurança - diz a aeromoça. Uma jovem, evidentemente bonita; e evidentemente delgada, ainda que sensual, do tipo falsa magra. Ele sorri, tímido, mas não é correspondido; nem o espera; a moça está ali apenas para se certificar do cumprimento das disposições de segurança. Ela tenta, pois, colocar o cinto, mas não consegue: a gorda esta sentada em cima. Não é de estranhar: desgraças encadeavam-se em sua vida, de acordo com um superior, perfeito e maligno desígnio.
Suspira. E, talvez por causa do seu suspiro, ou po causa da fivela, cuja dureza metálica há de ser percebida mesmo através da espessa camada de gordura de uma nádega descomunal, ela se ergue, ou tenta se erguer - um movimento que ele aproveita para, rapidamente, liberar o cinto. Afivela-o; o clique proporciona-lhe um minúsculo conforto: algo funciona, afinal.
O avião decola, jogando bastante - choque torrencialmente -, mas nem por isso ela abandona o jornal. Com os braços abertos, e absorta na leitura, comprime-o contra a janela. Ele decide que está na hora de executar a operação resistência. A primeira coisa a fazer é adverti-la sobre a invasão do espaço alheio. Para isso, encostou o cotovelo (espera, mas não tem certeza disto, que ela o perceba como um duro cotovelo) no braço dela, exercendo discreta pressão.
Nada. Nem notou. Lê.
Ele engole em seco, e passa à etapa seguinte, mais drástica: envolve tentativa de expulsão. O que ele está fazendo agora é empurrar o volumoso braço. Mas, de novo, sem resultado, mais fácil seria remover montanhas (o recurso da fé, que remove montanhas, ali se revelaria inútil). Três (número mágico: três) tentativas são feitas, sem que o monstruoso braço se mova um milímetro se quer.
Na terceira etapa, a força bruta dará lugar a sofisticação, à ação planejada. Ele precisa encontrar um espaço entre o braço dela e o encosto da poltrona. Tal espaço será ampliado pela introdução do seu cotovelo, que funcionará como vanguarda, como batalhão precursor. Ao cotovelo, seguir-se-á o seu própio braço, que, operando como alavança de Arquimedes, deslocará a mole de carne e gordura e recuperará o território ocupado.
- Lanche?
A aeromoça, com bandejas. Isso, agora, é um fato novo, que coloca ao mesmo temo perigos e possibilidades. Ele não pode aceitar o lanche; bem que gostaria de repor a energia (física e emocional) despendia no esforço de garantir seu espaço, mas não pode retirar o cotovelo da fenda em que a custo se introduziu; de modo que, com um sorriso triste, faz um imperceptível sinal com a cabeça, recusando o alimento. Agora se ela aceitar... Se ela aceitar, terá de deixar o jornal; terá de estender os braços; por um momento, deixará livre os braços da poltrona; e isso será uma oportunidade de ouro.
Numa fração de segundo, ela recebe a bandeja, e, com um suspiro de satisfação, acomoda-se na poltrona, deslocando, com seu cotovelo, o cotovelo dele.
Tudo perdido.
Seria preciso recomeçar - mas terá ele forças? Terá tempo? o voo se aproxima do fim, sua vida se aproxima do fim - tem quase cinquenta, sua familia não é de longevos, bem pelo contrário, avô e pai morreram, do coração, aos quarenta e poucos. Não é de adimirar que uma solução extrema lhe ocorra. Não há outro jeito.
Movendo-se com incrível dificuldade, tira o leve blusão que está usando sobre a camisa de manga curta, expondo o braço, a pele nua do braço. O que vai tentar equivale ao salto-mortal que o trapezista executa no fim do espetáculo, sem rede de proteção. Ao rufar dos tambores corresponde a batida acelerada de seu coração. Respira fundo e - pronto, encostou seu braço nela.
O que pretende? Não é pouco o que pretende. Quer, nada mais nada menos, que peles se toquem, que poros, coincidindo, transformem-se em canais permitindo o fluxo, intercâmbio de certa misteriosa energia capaz de siderar barreiras; com o que a vontade dele comandará a dela: tira o braço, ele ordenará mentalmente, e ela, sem sequer saber por quê, obedecerá.
Mas de novo falha. E de novo por causa da aeromoça, a linda, a simpática, a sensual aeromoça, essa moça que na cama enlouqueceria qualquer um, mas que ali a trinta mil pés de altura, simplesmente cumpre uma função: veio recolher suas bandejas. A mulher entrega a sua e ao fazê-lo, retira o braço, interrompendo toda a comunicação sensorial, e mental. E logo em seguida volta a ocupar o espaço. Naturalmente.
"Senhoras e senhores, estamos iniciando nosso procedimento de descida..." Oh, Deus, que fazer? Em desespero, ele volta a investir com o cotovelo. Para sua surpresa, não há resistência alguma; o contrário, o braço dela se retrai, cede docilmente o lugar. E ele toma conta do braço da poltrona, de todo o braço, vai mais adiante, já está encostando no peito dela, no seio, e ela nada, nem dá bola.
Por fim, volta-se para ele:
- Estava lendo sobre um casal que viveu junto setenta e cindo anos - diz, em tom casual. Deixa o jornal de lado, afivela o cinto e olha-o, terna:
- Você me ama tanto como no dia em que nos casamos?
- Mais - ele reponde com um sorriso. O avia pousa, com um solavanco. - Mais.


SCILIAR, Moacyr.
-
Ps. Tô em semana de provas, por isso a demora pra postar. Mas me esforcei um pouquinho e digitei essa enorme crônica aqui. Espero que gostem, apesar de grande.

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Doce dor.

1 comentários
Quando começar o frio, dentro de nós, tudo em volta parece tão quieto, tudo em volta não parece perto, toda volta parece o mais certo. Certo é estar perto sem estar. Perto de você, sou tão perto de você, sou tão perto de você!
Quando o tempo não passar, dentro de nós, cada hora é como uma semana , cada novo alô é mais bacana, cada carta que eu nunca recebo é sempre um motivo pra lembrar, sou tão perto de você...
Vida amarga, como é doce a dor da palavra dita de tão longe, dita de tão longe, dita de tão longe... Quando alguém se machuca, dentro de nós, toda culpa parece resposta, nossa busca não parece nossa, nosso dia já não tem mais festa, não tem pressa nem onde chegar. Sou tão perto de você...
Quando a paz se anunciar, dentro de nós, é porque aquilo que nos cega, mostra um outro lado pra moeda que não paga as coisas do meu peito, o preço é me fazer acreditar. Sou tão perto de você...
Vida amarga, como é doce a dor da palavra dita de tão longe, dita de tão longe, dita de tão longe... Quando a música acabar, dentro de nós...
O Teatro Mágico - Perto de você.
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É muito forte essa música. E eu ainda tô pensando em algo bom (não que TM não seja bom) pra postar aqui. Beijos!

"Além do que se vê"

9 comentários
É sempre bom, finalmente, achar uma pessoa, que pareça com você e entenda aquele sarcasmo e aquela velha ironia costumeira que você deixou de fazer porque sempre ficava no vácuo ou como a idiota da história por causa da falta de capacidade das outras de entender e perceber tão sofisticado ato de ironizar (?).
É sempre bom achar, finalmente, uma pessoa com quem você possa falar qualquer besteira, sabendo que ela não vai acreditar, diferente daquelas que, com espanto, diziam: "Meu Deus.. Você falando isso?". Diferente destas "- Você assistiu a minha apresentação? - Não, tava dormindo." Lógico que não estava! Me ajudou muito na hora da prova, e você sabe disso sem precisar que eu me corrija, dizendo que é brincadeira.
É bom, finalmente, achar alguém que goste das mesmas músicas que você, que tenha um bom gosto tão bom quanto o seu (modesta, eu), que não é fanático por Cine, Restart ou forró, só porque é adolescente. Uma pessoa que quer se mostrar carinhosa e presente sempre.
Não tô falando de um best friend forever, é uma pessoa simples, que me fez perceber o quanto as aparências enganam, que é possível conseguir uma nota altíssima em Matemática com aquele professor cascudo, o quanto eu sou tonta e que eu tenho a maior cara de chata.
Pois é. E eu encontrei.

Espaço vital

3 comentários
Nas circuntâncias o conflito (e que outro tema usar?) é inevitável. Primeiro, porque estão sentados lado a lado; segundo, porque se trata de poltronas de avião, cujos braços, na classe turista, são necesssariamente estreitos; e terceiro, mas não menos importante, porque ela é gorda. Deus, muito gorda. Transbordaria de qualquer assento, especialmente daquele. Além disso, quer ler; não é um pequeno livro de bolso, ou uma revista, ou mesmo um tabloide; não, é um jornal grande que ela escolhe, um matutino. Edição dominical, prometendo longa, longa leitura. Todo o tempo do voo, pelo menos.
- Seu cinto de segurança - diz a aeromoça. Uma jovem, evidentemente bonita; e evidentemente delgada, ainda que sensual, do tipo falsa magra. Ele sorri, tímido, mas não é correspondido; nem o espera; a moça está ali apenas para se certificar do cumprimento das disposições de segurança. Ela tenta, pois, colocar o cinto, mas não consegue: a gorda esta sentada em cima. Não é de estranhar: desgraças encadeavam-se em sua vida, de acordo com um superior, perfeito e maligno desígnio.
Suspira. E, talvez por causa do seu suspiro, ou po causa da fivela, cuja dureza metálica há de ser percebida mesmo através da espessa camada de gordura de uma nádega descomunal, ela se ergue, ou tenta se erguer - um movimento que ele aproveita para, rapidamente, liberar o cinto. Afivela-o; o clique proporciona-lhe um minúsculo conforto: algo funciona, afinal.
O avião decola, jogando bastante - choque torrencialmente -, mas nem por isso ela abandona o jornal. Com os braços abertos, e absorta na leitura, comprime-o contra a janela. Ele decide que está na hora de executar a operação resistência. A primeira coisa a fazer é adverti-la sobre a invasão do espaço alheio. Para isso, encostou o cotovelo (espera, mas não tem certeza disto, que ela o perceba como um duro cotovelo) no braço dela, exercendo discreta pressão.
Nada. Nem notou. Lê.
Ele engole em seco, e passa à etapa seguinte, mais drástica: envolve tentativa de expulsão. O que ele está fazendo agora é empurrar o volumoso braço. Mas, de novo, sem resultado, mais fácil seria remover montanhas (o recurso da fé, que remove montanhas, ali se revelaria inútil). Três (número mágico: três) tentativas são feitas, sem que o monstruoso braço se mova um milímetro se quer.
Na terceira etapa, a força bruta dará lugar a sofisticação, à ação planejada. Ele precisa encontrar um espaço entre o braço dela e o encosto da poltrona. Tal espaço será ampliado pela introdução do seu cotovelo, que funcionará como vanguarda, como batalhão precursor. Ao cotovelo, seguir-se-á o seu própio braço, que, operando como alavança de Arquimedes, deslocará a mole de carne e gordura e recuperará o território ocupado.
- Lanche?
A aeromoça, com bandejas. Isso, agora, é um fato novo, que coloca ao mesmo temo perigos e possibilidades. Ele não pode aceitar o lanche; bem que gostaria de repor a energia (física e emocional) despendia no esforço de garantir seu espaço, mas não pode retirar o cotovelo da fenda em que a custo se introduziu; de modo que, com um sorriso triste, faz um imperceptível sinal com a cabeça, recusando o alimento. Agora se ela aceitar... Se ela aceitar, terá de deixar o jornal; terá de estender os braços; por um momento, deixará livre os braços da poltrona; e isso será uma oportunidade de ouro.
Numa fração de segundo, ela recebe a bandeja, e, com um suspiro de satisfação, acomoda-se na poltrona, deslocando, com seu cotovelo, o cotovelo dele.
Tudo perdido.
Seria preciso recomeçar - mas terá ele forças? Terá tempo? o voo se aproxima do fim, sua vida se aproxima do fim - tem quase cinquenta, sua familia não é de longevos, bem pelo contrário, avô e pai morreram, do coração, aos quarenta e poucos. Não é de adimirar que uma solução extrema lhe ocorra. Não há outro jeito.
Movendo-se com incrível dificuldade, tira o leve blusão que está usando sobre a camisa de manga curta, expondo o braço, a pele nua do braço. O que vai tentar equivale ao salto-mortal que o trapezista executa no fim do espetáculo, sem rede de proteção. Ao rufar dos tambores corresponde a batida acelerada de seu coração. Respira fundo e - pronto, encostou seu braço nela.
O que pretende? Não é pouco o que pretende. Quer, nada mais nada menos, que peles se toquem, que poros, coincidindo, transformem-se em canais permitindo o fluxo, intercâmbio de certa misteriosa energia capaz de siderar barreiras; com o que a vontade dele comandará a dela: tira o braço, ele ordenará mentalmente, e ela, sem sequer saber por quê, obedecerá.
Mas de novo falha. E de novo por causa da aeromoça, a linda, a simpática, a sensual aeromoça, essa moça que na cama enlouqueceria qualquer um, mas que ali a trinta mil pés de altura, simplesmente cumpre uma função: veio recolher suas bandejas. A mulher entrega a sua e ao fazê-lo, retira o braço, interrompendo toda a comunicação sensorial, e mental. E logo em seguida volta a ocupar o espaço. Naturalmente.
"Senhoras e senhores, estamos iniciando nosso procedimento de descida..." Oh, Deus, que fazer? Em desespero, ele volta a investir com o cotovelo. Para sua surpresa, não há resistência alguma; o contrário, o braço dela se retrai, cede docilmente o lugar. E ele toma conta do braço da poltrona, de todo o braço, vai mais adiante, já está encostando no peito dela, no seio, e ela nada, nem dá bola.
Por fim, volta-se para ele:
- Estava lendo sobre um casal que viveu junto setenta e cindo anos - diz, em tom casual. Deixa o jornal de lado, afivela o cinto e olha-o, terna:
- Você me ama tanto como no dia em que nos casamos?
- Mais - ele reponde com um sorriso. O avia pousa, com um solavanco. - Mais.


SCILIAR, Moacyr.
-
Ps. Tô em semana de provas, por isso a demora pra postar. Mas me esforcei um pouquinho e digitei essa enorme crônica aqui. Espero que gostem, apesar de grande.

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